Por mais de cem anos aquelas criaturas ficaram ocultas do mundo, na esperança de que um dia fossem esquecidas.
Desejo me esquecer e desejo ser esquecido para sempre, como um homem
invisível que nunca soube as formas de seu rosto, pois jamais olhou-se
no espelho.
Às vezes questiono as razões de essa dor ser tão intensa e sempre
recebo as mesmas respostas, que gostaria que fossem mentiras. O fato é
que eu busco as lâminas que me ferem. Não que eu seja masoquista ou que
goste de sofrer, mas apenas que, infelizmente, sempre tive esperanças e
são essas esperançasque servem de pagamento para meus dias e noites
inquietos, sentindo-me cada vez menor.
É lugar comum, eu sei, mas gostaria que meu coração fosse
arrancado de meu peito e dilascerado, e que em seu lugar houvesse uma
pedra negra, fria e dura, sem esperanças.
A esperança é a mãe da dor.
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