A casa era velha, maltratada, realmente sem cuidados, mas mesmo com tantos detalhes negativos, ainda se percebia que quando foi construída, o luxo imperava em seu interior.
Após a morte de seu idealizador, um velho octogenário cujos sentimentos de adoração pela casa sempre foram imensuráveis, ela adormeceu e em seus sonhos atraía toda a sorte de vida para partilhar com eles a consciência de sua existência, para protegê-los das intempéries do tempo, da insegurança do lado de fora. E ela os protegia e os impedia de viverem além de suas paredes, e então eles pereciam... E então ela arranjava novos moradores, para proteger.
- Dekla, me conte novamente o motivo imbecil pelo qual nós viemos aqui hoje.
- Para saber por que o gato de Hesat não retornou para casa nos últimos quatro dias.
- Muito bom saber disso. É muito bom saber que eu transcendi às barreiras da realidade, ultrapassei os domínios do abismo, escrevi meu nome na Torre do Espinho Lunargent, canto a canção de Arcádia, e controlo o Tempo e o Destino de nações simplesmente para encontrar a merda de um gato?
- Você é muito melodramática Meza. Você sabe muito bem que a “merda” do gato está vivo a mais tempo do que nós quatro juntos e que ele conhece mais segredos do que seu mestre.
- Um absurdo! Um absurdo!
- Ah, cala a boca, ninguém te chamou para vir conosco, você veio só porque teve aqueles sonhos escrotos e ficou com medo.
- Parem vocês dois. Meza Virs, fique quieta, você devia estar aqui hoje, você sabe disso. Indra, pare de pegar no pé dela, senão vai se ver comigo... E com Hesat.
- Merda. A merda do gato está aí dentro dessa tapera, dessa casa caindo aos pedaços?
< entrem... entrem... entrem... aí fora é perigo... entrem >
- Ahura, você pode fazer alguma coisa para impedir que a casa caia em nossas cabeças quando entrarmos nela?
- Sem problemas, chefe.
- Vamos entrar. Olha, a porta está aberta, só pode ser o destino mesmo. Hehehe.
- Que cheiro podre é esse? Ahura, não tomou banho hoje?
- Mesmo com essa piada infame, de certa forma ainda está certa. Há morte por aqui.
< fiquem... durmam... eu protejo... >
- Quem fechou a porta? Bater essa porta desse jeito vai trazer o teto abaixo! Quem foi o imbecil?
- Merda... O gato tá morto.
< ele queria sair... gatinho... lá fora é perigoso... eu cuido... eu cuido de vocês também >
- Quem trancou a porta? merda! Ela não abre de jeito nenhum. Tentei apodrecer a porta, mas não consegui. Tem algo muito errado aqui.
< isso machuca... eu não importo... eu cuido... mesmo quando machuca eu cuido... >
- É só eu ou alguém mais acha que estamos com problemas?
- Tem uma Fronteira aqui. E acho que alguém, ou alguma coisa não quer que saiamos.
- É. Estamos realmente com problemas, e por causa da merda de um gato.
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