sexta-feira, 11 de maio de 2012

Dúvidas - Um conto da Matrix

O que ninguém nunca me explicou de verdade é a razão daquela sensação de morte que me toma toda vez que me conecto. É um instante apenas. Um instante no qual sei que eu morri em um mundo, para nascer em outro. Mas a parte que sempre me deixa revoltado é que eu nasci filho de um aparelho telefônico. Pois essa é a nossa ligação com a vida. Seria essa linha a minha alma?


- Pronto para conectar, Leack?

- O quê? Ah, sim, estou pronto. Nasci conectado. - lá vem a minha morte, meu instante de morte.

Nunca achei palavras para definir isso e é por essa razão que acredito que morro realmente. Mas agora não é hora de ficar divagando em bobagens, tenho uma missão a cumprir. E é como sempre diz o Script, meu operador, “A guerra estar perdida ou não depende do próximo acesso”. Foi com ele que consegui algumas dessas idéias sobre vida e morte e sobre a razão de nossas existências.

Meu alvo é um prédio governamental bastante importante para a cidade. Devo entrar e hackear algumas informações vitais sobre indivíduos classificados como “perigosos para a sociedade” (possíveis desplugados). O problema todo é que tivemos de ser inseridos longe do centro, para evitar a monitoração e rastreamento da Matrix na região.

Comigo estão Fobos e IO. Eles farão o trabalho de segurança. Ultimamente estou me sentindo importante. Esse mundo é muito estranho. Estamos em uma guerra que não temos a mínima idéia de quando ou como começou.

Travamos batalhas no estilo de guerrilha, onde nós (os revolucionários), lutamos no próprio terreno do inimigo. Onde cada homem, mulher ou criança é uma ameaça em potencial.

Chegamos ao nosso alvo. Odeio isso, tudo está calmo demais. Fobos e IO neutralizam os 3 guardas do complexo e eu me sento em frente ao terminal de acesso. Começo meu trabalho. Droga, os códigos são bem mais difíceis do que havíamos pensado! Vai levar mais tempo do que o previsto. Mas fazer o quê? Agora que estamos aqui só nos resta terminar o serviço. Demora mais de 30 minutos, mas consigo chegar aos arquivos que estavamos procurando.

Tudo que preciso fazer agora é copiá-los. O telefone celular toca. É Script, o operador.

- Script, o que foi?

- Agentes!! Saiam daí o mais rápido que puderem!

Não quero sair e deixar o trabalho quase finalizado. Eu hesito um momento, apenas para terminar de copiar os arquivos. Pego o disco e, ao passar pela porta, vejo Fobos e IO caídos. Dois agentes me olham de imediato.

- Não adianta correr Sr. Claremont. As conexões foram cortadas.

Droga, não sei o que fazer! Fico ali parado, por um momento, com o disco na mão. O celular ainda estava ligado e ouço Script gritar - “Eu te ajudo a sair daí! Agora dê meia volta e corra!”. - Foi o que eu fiz, corri o mais rápido que podia. Saltei pela janela e cai sobre um carro estacionado. Lembro-me de que quando garoto sonhava com um carro desses. Ouço tiros atrás de mim e sinto passarem muito perto. Muito mais perto do que eu gostaria.

As motos nas quais viemos ainda estão no mesmo lugar. Rapidamente pego uma delas e acelero em disparada.

Script me indica uma saída, um telefone público nos fundos de um bar na beira da estrada. Acelero a moto ao máximo que posso. Ainda escuto tiros e procuro desviar, na verdade apenas dificulto um pouco mais o trabalho dos agentes.

Nem dou tempo do veículo parar, salto da forma mais segura possível e pouso com perfeição. É, parece que estou ficando bom nisso. Ouço o telefone tocar e corro em sua direção. Passo por um garoto com um saco de balas (Será que existe um deus para as crianças cultivadas?). Corro tanto que meus pulmões parecem explodir.

Pouco antes de tirar o telefone do gancho eu escuto mais um tiro. Vem da posição onde estava o garoto, agora ele é um Agente. Pronto, me pegou.

Sinto o peito queimar com o projétil ainda quente em meu interior. Agora eu vou ver se estava certo.

Sempre acreditei que a alma vem da consciência do que realmente somos, por isso nunca tive pudores em neutralizar os cultivados. Agora verei se existe um deus realmente...

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