quarta-feira, 8 de abril de 2020

Kimiko 02

Kimiko 02

Durante a discussão com os seus associados, os Mattsu no Shinju (as seis pérolas), sobre a maldita determinação do Oyabun em relação ao homem que os extorquia, os ânimos ficaram agitados. Ran mostrava um distanciamento da paixão do momento, dizia que o homem não possuía nada contra eles, que eram ameaças infundadas. Esse ponto de vista não era compartilhado por Sasuke nem por Kimiko e mesmo eles também discordavam sobre o que deveria ser feito. Seiji tentava incessantemente conseguir informações sobre o alvo e, infelizmente, todos os seus contatos, acessos e invasões davam em conhecimento nulo. Aquilo frustrava os MS, acostumados a agir. Acostumados a matar.

Estavam perdidos, andando em círculos, cada um contra-argumentando com retóricas que não adicionavam. Foi então que os olhos de Sasuke buscaram o teto, e olhou de um lado para o outro, a sensação lhe era conhecida, ele sabia que em breve o escuro chegaria.

E então ele veio. O apagão, tão conhecido dos moradores de Shin-Edo, veio. As luzes de emergência se ativaram. Lá fora se ouvia o barulho forte de um vento que não deveria existir, mas que soprava violento sempre que a energia desaparecia.

Aquele instante de hesitação fez com que Kimiko observasse pela primeira vez o exato momento da desmaterialização de seu corpo. A raiva começou a se formar em sua alma. Ela e seus associados eram escravos de uma megacorporação, e eles foram transportados para o que ela chamava de Zonzero, a zona zero, o edifício onde tudo começou, e onde parecia ser uma intercessão importante naquele fluxo sobrenatural.

Foram levados para o alto do prédio, ao seu lado ela viu as Seis Pérolas e também Jin e Otawara. A equipe que a mídia chamava de Dākuhantā estava completa.

Vestiram os ciber trajes rapidamente, sabiam que era a diferença entre vida e morte.

Kimiko e Jin instintivamente levaram suas vistas aos mostradores dos trajes. Eles buscavam informações sobre quantos seriam os Yokai que deveriam enfrentar.

Seiji, Shinji, Ran, Sasuke e Otawara foram para a beirada do prédio, onde observaram uma enorme procissão no parque abaixo.

Os sensores indicavam muitos Yokai. Kimiko juntou-se aos outros e olhou para baixo. A fila da procissão seguia por um quarteirão. Os espíritos de vários tamanhos e formas cantavam e dançavam ao som de tambores sombrios. O vento castigava.

Kimiko entoou um cântico antigo e sutil enquanto movimentava ligeiramente seus dedos de forma ritualística. Quando passou a mão em frente ao rosto, na altura dos olhos, seu implante ocular começou a perceber as vibrações espectrais. Ela conseguia enxergar o mundo espiritual e confirmava que todos os membros da procissão eram yokai, mesmo os que estavam disfarçados de humanos.

Começou a tentar uma linha de ação junto dos aliados, mas quando percebeu, Shinji já havia pulado do alto do edifício, em direção ao solo, e começado sua matança. Não haveria conversa. Nunca havia conversa. Os outros o seguiram e com um dar de ombros despretensioso, Kimiko também saltou. Enquanto caia um sorriso se fez em seu rosto. O traje que cada um vestia lhes emprestava força e resistência sobre-humanas. Era viciante.

Quando chegou ao solo, Kimiko viu que Shinji não perdeu tempo, a lâmina mortal que ele portava retalhava com facilidade os espíritos. A velocidade com que ele executava suas manobras era desconcertante. Olhando para o lado viu os outros partirem para a ação. A precisão cirúrgica de Sasuke e Ran, enquanto disparavam em cabeças, que explodiam, tornavam a cena assustadora, a força que Seiji exercia ao atacar as criaturas, a ferocidade dos outros tudo era intenso. Aquilo a motivou e ela jogou-se na multidão de yokai, e em sua dança graciosa e destruidora, retalhava os espíritos com suas tesouras de mono lâmina, com movimentos acrobáticos e finais.

A matança continuou até o momento em que um dos Yokai, um demoniozinho ágil e saltitante, começou a absorver os restos espirituais dos espíritos assassinados. O rio de restos metafísicos se movimentava em direção monstro. Ele começou a crescer, numa forma humanoide sem definição até que se consolidou num enorme Oni vermelho, com uma grande espada curvada de lâmina larga e se apoiando em uma perna, enquanto a outra ficava dobrada na altura do joelho.

Cinco, seis metros de Oni era o que viam à frente, com enormes olhos amarelados, chifres pontiagudos e presas afiadas. Deram dois passos para trás, numa tentativa de entenderem melhor seu adversário.

O Oni gritou enquanto empunhava a enorme lâmina! Sem perderem tempo, os Dākuhantā atacaram.

Kimiko e Ran derrubaram postes de iluminação e arrancaram os fios do chão para tentarem eletrocutar o demônio. Seiji retalhava com sua espada encantada. Otawara e Jin tentavam amarrar as pernas do Oni para derrubá-lo. Sasuke e Shikamaru atiravam na coisa com tudo o que tinham.

Nada parecia surtir efeito.

O monstro desferiu golpes contra os que estavam mais próximos a ele. Os ciber trajes impediram a obliteração imediata dos pequenos humanos. A força da criatura era imensa, mas os trajes absorviam a maior parte da energia cinética. Mesmo após ser sucessivamente arremessada contra o solo, Kimiko ainda resistia.

Por vários minutos de golpes e contra golpes o combate se desenrolou. Shinji e Seiji arremessaram um carro contra o Oni. O carro foi eletrocutado e explodiu, ferindo fortemente a criatura, que mesmo assim não parava, e começava a aproximar-se de uma área movimentada. Kimiko então saltou com as tesouras e atingiu o monstro nos olhos, rasgando fundo. Num salto de costas elevou-se ao ar e então partiu com a energia acumulada contra o chão. Usou toda a força do traje para arrebentar o asfalto e fazer o Oni cair no esgoto. Foi arrastada junto, pela criatura que segurou sua perna.

Seiji e Jin pularam em seguida, atingindo fundo o crânio do monstro, que caiu morto.

A vitória chegou.

Quando viram melhor, Kimiko estava caída sob o monstro, que começava a se desfazer em uma sombra escura.

Seu implante ocular estava fora do encaixe de seu crânio, seu braço direito em uma posição impossível. Os ferimentos internos eram muitos. Seiji fez uma análise rápida do traje e viu que a energia havia acabo quando Kimiko abriu o chão. Sasuke a pegou no colo e a levou para a clínica clandestina onde ele mesmo reparava os soldados de rua da facção Yakuza de seu pai.

Ao remover o traje da jovem moça, o braço direito se desprendeu, destroçado dentro da roupa. O corpo de kimiko estava no limite. Por muitas horas Sasuke tentou de todas as formas trazer a mulher à vida. Na ante sala, os outros esperavam.

As lágrimas secaram no rosto de Otawara e Jin se continha, fortalecido em um semblante estoico, mas seu coração ficava apertado à medida que o tempo passava e não havia respostas, apenas alguns gritos de raiva e frustração além das paredes, onde Sasuke trabalhava.

Seiji, Shinji, e Shikamaru pensavam sobre o futuro e as consequências daquele dia. Ran tentava trazer um pouco de paz aos corações, servindo chá.

Foi então que, depois de uma eternidade, a porta se abriu. Todos ficaram de pé e olharam em direção a Sasuke. Esperavam resultado. Sasuke estava ensanguentado, com um olhar cansado, seus braços estavam exaustos. O servo robô ao seu lado também estava banhado em sangue.

- Ela vai viver. Fiz o que eu pude. Infelizmente ela terá de se adequar à sua nova condição. Podem vê-la pelo vidro, mas apenas rapidamente.

Como na procissão dos yokai que haviam destruído a não mais de 24 horas, eles seguiram em fila. Pelo vidro viram Kimiko, com tubos em seu corpo, o suporte de vida mantendo seus órgãos funcionais, o implante ocular numa bacia suja ao lado da cama e o braço destruído sobre uma mesa.

- Ela vai viver. Isso é o que importa.

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